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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Coisas Simples

A poesia gosta mesmo é de coisas simples. Basta uma imagem banal. Uma vez escrevi um longo artigo sobre algo de que já me esqueci. Só me lembro que, em meio às muitas palavras, eu escrevi “o cheiro bom do capim gordura”. Pois me escreveram, lá do sul de Minas, pra falar não sobre o meu artigo, mas sobre o cheiro bom do capim gordura. A Adélia Prado é especialista em fazer poesias com insignificâncias. Quiabos, chifre de veado, ora-pro-nobis, tanajuras, galinhas, ovos, escamação de peixes, a mãe cantando enquanto cozinhava exatamente arroz, feijão roxinho e molho de batatinhas são todos entidades dos seus poemas. Por que é que os poetas são assim tão ligados às insignificâncias? Porque é com insignificâncias que a vida é feita. Pois eu escrevi sobre a insignificância de chupar laranjas... e aconteceu igual ao que aconteceu com o cheiro bom do capim gordura. O Zé, marido da Adélia, me mandou e-mail imediato – coisa raríssima! - lá de Divinópolis, juntando-se a minha conversa sobre os jeitos de chupar laranja. E ele me disse que por lá os pobres também chupavam de gomo. Só que enfiavam o gomo inteiro na boca, depois cuspiam os caroços e engoliam o bagaço. Isso, por causa da prisão de ventre. Se eu escrevi e o Zé me respondeu é porque a amizade se faz com insignificâncias. Em Minas Gerais até jeito de chupar laranja é poesia...

Rubem Alves- Ostra Feliz Não Faz Pérola.

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